Feira do Livro
Autoras falam sobre envelhecimento feminino e solidão
Fernanda Moro e Juliana Leite participam da proposta Conversa com Escritores, da 48ª Feira do Livro de Pelotas
Carlos Queiroz - DP - Evento literário ocorre na praça Coronel Pedro Osório
Nesta quarta-feira (2) as escritoras Fernanda Moro, de Porto Alegre, e Juliana Leite, do Rio de Janeiro, são as convidadas da Conversa com Escritores, atividade da 48ª Feira do Livro de Pelotas. As autoras de A menina que queria ter rugas (Citadel) e Humanos exemplares (Cia das Letras), respectivamente, estarão na Tenda Cultural para bater um papo com o público sobre suas obras e as temáticas que elas ressaltam, o tabu do envelhecimento feminino e a solidão na terceira idade. A mediação é da jornalista Carolina Graziadei. Estes livros estão à venda na livraria Vanguarda.
Lançado este ano, A menina que queria ter rugas, de Fernanda Moro, apresenta reflexões reais, do ponto de vista de uma criança, sobre como as cobranças pela aparência impactam o olhar feminino. Publicada pela Citadel Editora, a obra é escrita em forma de diálogo, como um arquivo pessoal de memórias afetivas, e retrata três gerações de mulheres, da mesma família, que enxergam as rugas e o envelhecimento de maneiras totalmente diferentes.
Fernanda, ainda na infância, desejava os chamados "pés de galinha" no canto dos olhos, tal como sua avó materna os tinha. Usava as maquiagens da mãe para desenhar linhas no próprio rosto e por isso era constantemente repreendida. Onde já se viu uma menina querer ter rugas? Dona Beatriz, a mãe, que se aproximava dos 50 anos e começava a perceber os primeiros sinais em sua pele, não conseguia entender porque a filha caçula queria tanto envelhecer. Já a avó, Anita, aprendeu com o tempo que aquelas marcas representavam a força, a luta e o poder feminino. "A gente não nasce achando as rugas feias, bem pelo contrário! A gente é ensinada a achar as rugas feias, que envelhecer é ruim,
que a mulher só tem valor quando é jovem. Tudo isso é imposto para as mulheres à medida que crescemos", refletiu a autora na obra.
Com base nas vivências e constatações pessoais, Fernanda traz para as leitoras um olhar reflexivo sobre o sistema que impõem obrigações como, serem boas profissionais, bonitas, felizes e mães dedicadas. O livro é também uma maneira da autora empoderar outras mulheres a serem quem quiserem ser e mostrar que podem chegar a qualquer lugar sem ficar refém da "beleza eterna".
A escritora acredita que todas têm seu tempo e seu caminho e é preciso compreender este momento para falar sobre ele. Apaixonada por ouvir e contar histórias, Moro estreia na literatura com um livro escrito com a alma de uma criança e a verdade que as experiências da vida a trouxeram.
Companhias invisíveis
Natalia é uma mulher velha, muito velha, que passa os dias reclusa em seu apartamento à espera de telefonemas da filha que mora em outro país. Viúva e última sobrevivente de um grande grupo de amigos, ela carrega os seus queridos humanos como um buquê íntimo de desaparecidos, companhias invisíveis que povoam a casa a partir de suas memórias. Natália é a personagem criada por Juliana Leite para o romance Humano exemplares, obra na qual aborda com sensibilidade e fluidez questões comuns às mulheres, como família, amor, envelhecimento e os tempos das ausências e das memórias.
Este não é o primeiro romance da autora fluminense, em 2018 ela lançou Entre mãos, que recebeu os prêmios Sesc e APCA, foi finalista do prêmio Jabuti, prêmios São Paulo e Rio de Literatura e semifinalista do prêmio Oceanos, além de ter sido publicado na França e tido os direitos vendidos para o cinema.
Na nova narrativa Juliana tem frases curtas e contundentes ao expor a crueldade social que acaba por relegar aos mais velhos apenas as memórias como fiéis companheiras. A anciã imaginada pela autora passa os dias à espera, reclusa física e mentalmente vai se perdendo de si para ser uma mera coadjuvante das próprias lembranças. Em recente entrevista a escritora conta que passou boa parte da infância na companhia de idosos, deste período vem a inspiração para uma profunda reflexão.
Serviço
O quê: Conversa com as escritoras Fernanda Moro e Juliana Leite
Quando: nesta quarta-feira (2), às 20h
Onde: Tenda Cultural, praça Coronel Pedro Osório
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